terça-feira, 13 de maio de 2014

"Mas que sejam passageiros não quer dizer que não sejam importantes. E contudo são muito mais importantes do que habitualmente supomos."

Considero o vestir uma comunicação por acaso. A nossa intenção ao vestirmo-nos é meramente cobrir o corpo, sem querer com isso transmitir alguma coisa. No entanto, como tudo o que fazemos habitual ou diariamente, acabamos por dar a entender certas ideologias ou sentimentos. Isso passa por mostrar a que cultura, estrato social ou faixa etária pertencemos.
Sendo assim, faz sentido que abordemos o vestir como comunicação e não tanto como forma de expressão. A comunicação proveniente do vestir não tem a ver com o que queremos dizer ao mundo, mas como o mundo nos vê como membro da sociedade. Acaba por não ser uma imposição do nosso individualismo, mas sim do nosso individualismo enquanto grupo cultural. Há, portanto, duas formas de ver o individualismo.
Num grupo há sempre alguém que se destaca, enquanto que todos os grupos se diferenciam uns dos outros. Há a possibilidade de haver pessoas que se destaquem no grupo a que pertencem, podendo ficar mais integrado num grupo a que não pertence. Pode destacar-se de todos os grupos, independentemente de a qual pertencerá. O caso que calculo ser mais comum acaba por ser mesmo o de identidades que se destacam num grupo, mas visto pelos outros grupos é totalmente igual aos outros membros. Isto porque temos o hábito de generalizar e preconceituar, fazendo com que quem não pertence a uma cultura tenha mais dificuldade em reparar no individualismo de alguém inserido nela.
As diferenças visuais mudam conforme a faixa etária, a classe social, a raça, a religião e, principalmente, mudam ao longo da História. O mais provável é eu sentir-me mais desintegrada ao andar de metro com um vestido do séc XVII do que com uma burka.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Cor - "para aquém do homem que tem uma perceção da natureza e a faz dobrar-se aos seus objetivos preenchendo-a de significados"

Diz-se muito que a forma como uma pessoa se veste depende muito de como se sente naquele dia. Que alguém que se vista de amarelo é sempre mais alegre do que alguém que se vista de preto. Não acho que seja de todo verdade.
Esta ideia de o preto ser uma cor triste, a cor da morte e do luto não coincide de todo com a sociedade de hoje em dia. Talvez por transmitir seriedade, tenha sido fácil transportar esta cor para uma ideia de poder e sofisticação. A verdade é que nenhuma outra cor tem tantas discrepâncias de significado através do tempo e das culturas.
Posto isto, talvez o preto seja a cor que menos tem a dizer acerca da pessoa que o usa. As pessoas usam preto porque "fica bem com tudo", porque emagrece, porque está na moda e nunca deixa ficar mal.

sábado, 19 de abril de 2014

Pudor forçado - "Em Citânia: tem mini-saia - é uma rapariga leviana"

O Baloiço - Jean Honoré Fragonard
A mulher, principalmente, está sempre a sofrer preconceitos quanto à quantidade de pele que mostra. É uma situação a que todas as mulheres já estão habituadas, sendo a comparação feminilidade - sensualidade tão usual. O que me intriga realmente é o facto de, ao todos admitirmos que a mulher transmite sensualidade através das suas formas, aceitamos mais facilmente que se use uma peça reveladora de formas do que uma peça reveladora de pele.
É este pudor em relação à mostra de pele que me intriga. No Vaticano, uma mulher que use uns calções largos um pouco acima do joelho não passa da entrada, enquanto que uma mulher com umas leggings a servirem de calças é aceite sem problemas. Mais estranho ainda é de seguida passarmos por uma mulher que dentro da Basílica tem todo o conforto em exibir a sua blusa transparente. Neste caso a teoria da mostra de pele perde totalmente o sentido.
O pudor forçado já não é uma questão de mostrar ou não o corpo. Já faz parte das culturas abordar o decoro como cobrir o corpo com um tecido, sem que isso signifique não estar a "mostrar tudo".

sexta-feira, 4 de abril de 2014

"Em Citânia: tem minissaia - é uma rapariga leviana
Em Milão: tem minissaia - é uma rapariga moderna
Em Paris: tem minissaia - é uma rapariga
Em Hamburgo, no Eros: tem minissaia - se calhar é um rapaz"
"Uma nuvem não é um facto comunicativo, é um mero adensamento de vapor; mas uma nuvem vista como presságio de chuva (...) é pelo menos aquilo que Pierce definiria um «Índice»: um artifício inventado para comunicar qualquer coisa."

domingo, 30 de março de 2014

Pudor - "Até as coisas que «servem para» de certo modo dizem sempre algo"

Quem tem familiaridade com História do Traje sabe que o pudor sempre foi um aspeto presente na moda. Só no último século é que a mulher deixou de ver os tornozelos como uma parte do corpo a esconder. Na cabeça do homem comum de hoje em dia o pudor vivido em certas épocas da História é até algo bizarro. Quem olha agora para a representação do traje da mulher minóica não entende a sua perceção de pudor.
A verdade é que aceitamos de forma perfeitamente natural que uma mulher use uma saia acima do joelho em qualquer situação, mas um decote deve ser sempre bem refletido. Claro que a aceitação de certos pormenores como a quantidade de peito que se mostra, a profundidade de um decote nas costas ou a revelação do umbigo sofre mudanças mais constantes do que visões mais gerais. No entanto, assim como um vestido da época barroca seria tomado como demasiado revelador, uma mulher dessa altura teria certamente dificuldades em aceitar a quantidade de umbigos visíveis hoje em dia.
Sendo assim, quando se diz que uma das razões de o homem se vestir é o pudor, há um leque enorme de questões culturais e temporais relacionados com a mostra do corpo.

sábado, 29 de março de 2014

Introdução - "É muito menos natural e muito mais cultural do que se pode normalmente pensar"

A forma de comunicação mais básica e comummente utilizada é a língua falada, provavelmente por ter códigos bem definidos, recebendo reformas constantes para se adaptar ao utilizador do momento. É graças a essas reformas que é possível manter uma língua viva e natural de utilizar.
A linguagem dos sinais, do aspeto e de tudo o que seja visual é também uma forma de comunicação. Um fruto, estando verde, não precisa de falar para compreendermos que ainda não está comestível. Em O Hábito Fala Pelo Monge, Umberto Eco fala como o ato de usar ou não uma gravata influencia a imagem que transmitimos conforme o ambiente e as pessoas que nos rodeiam alma individualmente.
Mas a formalidade da situação e as crenças das pessoas são apenas duas das abordagens quanto a este tema. A segui-las temos as diferenças culturais conforme o país, a época e até cada
Podemos dizer que o vestir é uma língua viva exatamente porque está em constantes reformas, tão rápidas e passageiras que seria muito difícil criar uma gramática ou um dicionário do vestir. Totalmente impossível seria que essa gramática e esse dicionário fossem universais e intemporais.
Vendo deste ponto, o vestir é uma linguagem com códigos fortes o suficiente para que todos a entendam e consigam criar uma visão pessoal de cada utilizador de roupa; mas não fortes o suficiente para serem considerados códigos no sentido verdadeiro da palavra.
As regras de comunicação do vestir são mais uma questão cultural e temporal, uma vez que o preconceito de cada um tem base nas suas experiências e observações.